Não fora logo para casa. Telefonara a avisar já vou, mas mentira. Teria mentido ainda que houvesse alguém para atender. Mas virara por certo no sítio errado e não se corrigira no rumo. Mudar de rumo? É preciso vento. Rodeado de paredes, vento era luxo que não tinha agora. Deixou-se ir pelas ruas, um andar que mais parecia arrasto. Porque o peso existe, agarrado às correntes. E assim, cada vez menor, se dissolveu na calçada.
Não fora logo para casa. Há quem lhe chame imóveis e isso diz logo sobre o peso. Diz mais que o telefone, sem ninguém do lado de lá. Ninguém que espere, mas também ninguém que prenda. Não quer grilhões nos sonhos. São como o vento, não por serem etéreos, mas por não existirem agora. Sentia-se intratável, intolerante e intransigente. As ruas, apesar de estreitas, davam uma certa sensação de liberdade. Deixavam pensar.
Lamentou erros do passado e formulou desculpas para o presente. Correu. Não como quem foge de alguém, mas como quem persegue algo. E carregou em ombros todo o futuro…
Sustentar o globo custa. Mas a dor não dura sempre. Diminui para metade. Mais ou menos na mesma altura em que a coluna se parte!
Gonçalo Fortes
7 de Março, 2012 at 12:37
Denso e rico em material para psicanáilse (Inserir gif do Sigmund a esfregar as mãozinhas aqui)!
Well done Coiote old friend! Well done.
7 de Março, 2012 at 13:44
Porquê? As personagens de ficção não têm psi.Repara que não há nenhum artigo de género aqui. 😉
7 de Março, 2012 at 15:01
Não sei porquê mas tenho a ideia de que a falta de artigos de género foi completamente intencional!
Já a falta de psi das personagens de ficção, permite-me discordar. Porque em algum momento, o autor imprimiu nelas a sua psique. Por outro lado, eu não disse que me estava a referir à personagem per se. A situação em si e os seus actos são permeáveis a (psic) análise. Mas que sei eu? 😛
7 de Março, 2012 at 15:28
Sabes pouco, sabes! 😀
7 de Março, 2012 at 16:25
Me? I simply do not know what you’re talking about… 🙂
7 de Março, 2012 at 13:46
Esqueci-me de agradecer!